No outro dia já estou melhor, o enjoo é menor e consigo me alimentar direito. Ed foi para a sua casa à noite quando viu que eu estava melhor, ele precisava organizar algumas coisas da faculdade. Tadeus já está pronto e com as malas prontas, tanto as minhas como as deles.
-Vi que você não estava em condições de arrumar as malas e fiz isso para você.
-Agradeço.
Vamos para o carro e pegamos a estrada rumo a casa da minha tia, para resolver logo as coisas da herança. Passo boa parte em silêncio, até que não aguento e decido falar algo, o silêncio estava me incomodando.
-O Ed está notando que você está diferente. Poderia agir mais naturalmente na presença dele?
-Vou começar a tratá-lo mal, já que você quer que eu aja naturalmente. Não gosto dele, ele roubou você de mim, tenho o direito de não gostar dele.
-Ele não me roubou de você, nunca fui sua, a garotinha que sumiu sim, eu sou outra pessoa agora. O Ed nunca te fez nada de mal, então você não tem o direito de não gostar dele. Se não quer amizade com ele, tudo bem, mas não precisa agir como um estranho. Ele vai acabar descobrindo.
-Ótimo, assim quem sabe ele se toca. Vê que está atrapalhando as coisas.
-Tadeus, mesmo se um dia o Ed acabar o namoro comigo eu não vou ficar com você. Você é meu primo e quero manter essa relação, apenas, com você.
-Até parece, Julie, para de negar, você gosta de mim.
-Para de colocar essas dúvidas em mim! -Grito. -Não vai adiantar, depois do que nós fizemos eu vi que apenas amo o Ed, a única coisa que sinto por você seria uma tração física, mas não vou trocar um amor por uma atração.
O silêncio então reina entre nós.
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Depois de acertar tudo com o advogado, posso dizer que sou uma mulher rica. Minha tia me abraça forte e retribuo, eu estava realmente com saudades.
-Achei que você tivesse me esquecido, querida. -Ela senta num banco no jardim da casa.
-Imagina tia, jamais vou esquecer da senhora. Mesmo se acontecer outro acidente comigo. -Aproveito a deixa para perguntar algo que me incomoda há tempos. -Tia, a senhora podia me contar sobre o dia em que sumi? Ainda tenho dúvidas de como tudo ocorreu, como fui chegar a Londres.
Ela parece hesitar, mas depois inicia a contar. Deve ser difícil para ela falar sobre esse assunto.
-Claro querida, seus pais moravam na casa onde você teve uma lembrança com o Tadeus. Era um inverno bem rigoroso lá em Londres, todos fomos para um lago, pois ia ter um evento por lá. Havia muita gente e foi inevitável que você se perdesse, procuramos em vários lugares e perguntamos a várias pessoas, mas ninguém havia te visto. Seus pais ficaram desesperados e procuraram e todos os lugares possíveis, mas ninguém te achou. Agora como chegou a praça da sua primeira lembrança, isso só você pode responder, buscando em suas lembranças.
-E os meus pais, onde eles morreram?
-Num penhasco próximo daqui, havia uma ligação anônima que tinha dito que você estava pelas redondezas e eles foram atrás de você, mas acabou que eles não acharam e acabaram caindo do penhasco. -Minha tia fica emocionada falando. -Sinto muita falta do meu irmão e da minha cunhada.
-Queria poder ter uma lembrança deles. -Tia Helena então se levanta e pede que eu espere. Logo volta com um álbum nas mãos.
-Pode ter uma lembrança deles com você sempre que precisar aqui. -Ela abre e pega uma foto de um casal lindo.
A mulher com cabelos castanhos e um sorriso encantador, os olhos pequenos e que lembram muito os meus olhos. O homem é forte e tem a barba por fazer, os cabelos negros e beija a bochecha da esposa… Meus pais.
Uma lágrima escorre pela minha bochecha e enxugo com a manga da minha jaqueta.
-Eles eram lindos. -Minha tia me abraça.
Então sinto um aperto grande no peito, como se eu tivesse perdido, ou fosse perder algo.
Um mal pressentimento.
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