on domingo, 30 de dezembro de 2012
Sim, eu ainda fico pensando naquela segunda-feira. A segunda-feira onde encontrei a garota da minha vida.Parece desesperado dizer isso, mas eu sei que ela era. As razões que me levam a ter essa certeza são: desde aquele dia eu procuro incessantemente outro encontro nosso; sonho com o rosto dela todas as noites; quando estou em devaneios é para perto dela que eu vou. Isso não acontece com garotas normais que se encontra no dia a dia. Isso acontece com A garota que se encontra apenas uma vez na vida. 
Na minha mente as imagens do nosso primeiro encontro estão começando a se confundir, por isso acho melhor colocar tudo no papel antes que esse grande momento vire apenas uma pequena lembrança. É algo que tenho muito medo, de perder a visão dela em minha mente. De acordar um dia e perceber que já não lembro mais como ela é, como me senti ao vê-la. Não, ponho tudo no papel para que possa reviver essas sensações sempre. 
Eu tinha acabado de sair de uma aula bem entediante, minha mente ainda estava no modo off quando entrei no ônibus e sentei num assento da parte traseira. Com os fones de ouvido entrei num mar de pura ilusão, minha mente caminhando por lembranças e ideias. Se me perguntarem hoje que lembranças e ideias eram essas, apenas poderei responder: bem interessantes... Até o momento em que a vi. 
O ônibus estava cheio, como sempre fica. Saí do mar e fui para a superfície, apenas para observar as pessoas (banhistas) que estavam ao meu redor. Minha mente seguiu: nada, nada, nada, nada... Deslumbramento. Ela estava parada no centro do ônibus, devia ter mais pessoas ao redor dela, mas naquele momento apenas a presença dela me bastava. Os cabelos ruivos caindo-lhe por sob os ombros de forma graciosa, o ombro a mostra em sua blusa. Meu olhar foi acompanhando cada parte do corpo daquela divindade, digna de belezas élficas. 
Toda compenetrada no seu próprio mar de ilusão, só que o seu tinha outro nome... celular. Estava se comunicando com alguém por mensagem de texto quando se sentou em um lugar que tinha acabado de ficar vago.
Olhei para o mar e ele já não parecia mais tão atrativo assim. A superfície, pela primeira vez, estava melhor.
O percurso todo se seguiu com ela banhando-se em seu mar e eu apenas a observar de longe, com meus olhos miúdos decorando cada movimento que ela fazia. Na hora de descer, não sei se foi o meu desespero de não perdê-la de vista, ou se ela estava realmente me esperando, mas descemos juntos... Ali eu sabia que nos separaríamos e eu apenas teria as lembranças daquela viagem de ônibus. 
Surpresa melhor não seria... Entrei na fila para esperar o outro ônibus que tomaria na minha enorme rotina de volta pra casa; tentei voltar para a escuridão da minha mente, mas uma brilhante luz me retirou de lá... Era ela. Parou um pouco atrás de mim, um senhor nos separava. A partir dali eu já não estava interessado em olhar para frente da fila, a parte de trás estava mais interessante. 
Ela não pegou o seu celular em nenhum momento que estávamos na fila, já eu, por receio de ter aquilo tudo acontecendo apenas em minha mente (refiro-me a reciprocidade dos olhares), preferi manter os fones. Não me julguem, caros leitores, pois o meu julgamento já é o bastante para saber como fui estúpido em continuar com os fones. Se houvesse uma maneira de mudar o passado, eu os teria arrancado e jogado do outro lado do terminal de ônibus. Mas não há, portanto entendam, nunca fui um ser humano com elevada autoestima, ao contrário a minha andava bem no subsolo. Apenas admirava a beleza alheia e suspirava imaginando se um dia chegaria a tal... Não que seja feio, pelo menos nunca ninguém (além de mim) me disse isso; presume-se que eu esteja na faixa dos medianos... E para um mediano, ter uma garota deslumbrante, filha de Afrodite, lhe observando deve ser no mínimo coisa da sua cabeça. Estás apenas a imaginar, ó mente fértil. 
Espero que tenham entendido as minhas razões de recear os olhares. Era por medo, não dela, jamais teria medo de tão bela criatura, meu medo era de todo aqueles olhares e sentimentos estarem ocorrendo apenas em minha cabeça. 
Já estávamos próximos de entrar no ônibus, quando este começou a demorar mais do que o normal. O som que tocava em meus ouvidos me contagiou e passou diretamente para os meus dedos, que batucavam ao ritmo da música... Não apenas eu batucava, ela olhava para os meus dedos (acho que olhava) e repetia o ato. Como se dissesse: gostaria de acompanha-lo no ritmo. Neste momento minha mente começou a trabalhar em ritmo acelerado, buscando pistas de que aquilo realmente estivesse acontecendo, não poderia ser apenas obra do meu inconsciente. Não tinha como ser. 
Respirei fundo, olhei nos olhos dela... Lindos olhos castanhos e expressivos. Aquele típico olho que apenas alguns segundos observando e se saberia exatamente o que a dona deles estava pensando. Respirei fundo e... O ônibus então chegou... 
Se ela sentar ao meu lado isso significa que tudo está acontecendo. Se ela sentar ao meu lado isso significa que tudo está realmente acontecendo. Repeti para mais de mil vezes em minha mente. Procurei um lugar para sentar no ônibus e torcer para que ela sentasse ao meu lado... Para a minha infelicidade, não haviam lugares nem para mim, nem para ela. Pessoas e mais pessoas se amontoaram entre nós e eu já não conseguia vê-la mais. 
Eu estava perdido no mar real de pessoas, sentia ela se afogando e se distanciando cada vez mais de mim. Tentei erguer minha mão para trazê-la de novo para a minha superfície, mas ela já estava indo para as profundidades... Naquele momento eu soube que a tinha perdido e no momento em que descemos no outro terminal, não houve nem um tempo para saber nomes e trocar telefones. Ela caminhou para o seu lado e eu, mais uma vez, infelizmente, caminhei para o meu, muito a contragosto por sinal. 
Ali foi a última vez que a vi. Durante toda a semana eu deixei de visitar o meu mar de ilusão só para ver se a reencontrava, mas isto não aconteceu. 
Hoje o único lugar que posso reencontrá-la é em meus sonhos, onde revisito o momento e dou um final diferente para ele. Um final onde eu retiro os fones e digo meu nome, ela sorri graciosamente e diz o seu... Um nome que em cada sonho eu mudo, quero ter sempre essa incógnita em minha mente... Nós conversamos, trocamos telefones e alguns dias depois, conhecemos tanto um o outro que acabamos nos rendendo a aquilo que já estava destinado para acontecer... 
Que não aconteceu. 
Ao menos agora tenho não só os meus sonhos, mas também este texto, onde sempre que ler poderei reviver aqueles instantes de glória. Os instantes ao lado da garota da minha vida. 

Esse texto é um espécie de desabafo sobre um fato ocorrido. Nem tudo que está foi real, mas isso não anula a realidade dele. O título foi retirado da música Cry da Kelly Clarkson, pois resumo o pós-texto (ocorrido). Agindo como se não houvesse nada de errado, quando na verdade tudo está. Espero que tenham gostado :)

on sábado, 29 de dezembro de 2012

Capítulo 24
Eu estava muda, sem saber o que dizer ao Chad. Ele estava me olhando fixamente e já começava a estranhar o meu silêncio. Então falei a primeira coisa que me veio a cabeça.
-É segredo as relações entre garota e cliente. -Então deitei em cima do seu corpo, numa maneira de seduzi-lo e assim, quem sabe, fazê-lo esquecer.
-Mas o Ed e eu somos melhores amigos, não escondemos nada um do outro. Ainda mais se for apenas uma garota de programa. -Ele me tira de cima do seu corpo. Sinto-me enojada com a ideia de ter feito sexo com um cara como ele. O que o Chad tem de bonito ele tem de asqueroso.
-Tudo bem, se quer tanto contar pode ir. Agora não entendo, eu achava que as mulheres é que eram assim, que comentavam com as amigas sobre as suas transas. -Ele me fulminou com o olhar.
-O que você está querendo insinuar?
-Nada, apenas comentando sobre o assunto. Não sabia que os homens também faziam isso. -Digo sabendo que estou conseguindo persuadi-lo. -É ótimo quando aprendemos coisas novas.
-Espera um pouco, você está me comparando a uma mulher? -Então tudo aconteceu rápido demais.
Eu estava deitada na cama quando algo atingiu o meu rosto e cai no chão. Ele havia me dado um soco, continuei caída e com medo de me levantar. Senti quando ele se ajoelhou ao meu lado, segurou os meus cabelos com grosseria e ergueu meu rosto.
-Isso é pra você aprender como é que se faz um bom serviço. -Ele soltou meu rosto e só aí percebi que meu nariz estava sangrando e eu estava com o rosto deitado numa poça de sangue.
Eu queria matá-lo, mas estava fraca. Ele havia me pegado desprevenida, então fui deixada sozinha lá no motel. Fiquei deitada por algumas horas em cima da minha poça, tentando arrumar uma maneira de sair dali sem precisar pagar a conta que, com certeza, Chad não pagou. Então pensei na única coisa que poderia fazer.
Liguei para o Ed.
-Angel, o que foi que houve? -Ele atendeu preocupado ao ouvir minha voz fraca. Contei quase tudo a ele, só não mencionei o fato de ter transado com o Chad e que logo depois fui espancada por ele. -Calma, não se preocupa que eu vou para aí.
Ele realmente não demorou, meu sangue já havia parado de escorrer. Alguém abriu a porta e ouvi a voz de Ed. O pânico era notável em sua voz, então sussurrei:
-Não precisa se preocupar estou viva. Só não estou com forças para me levantar.
-Cadê esse covarde que fez isso com você? -Vi que ele estava olhando para os lados procurando o tal covarde.
-Foi embora, me deixou sozinha aqui. -Ed me ajudou a levantar e me carregou no braço. Encostei minha cabeça em seu ombro.
-Vou te levar para o hospital, não se preocupa com nada.
 Então essa foi a última coisa que ouvi, o sono era maior.

Capítulo 23 
Um cliente chega e vou atendê-lo. Ele está dentro do seu carro, abre a janela e reconheço, é Chad o amigo de Ed. Ele sorri maliciosamente. 
-Sabia que você iria vir. Tem cara de quem gosta de algo bastante quente e selvagem. -Reviro os olhos. 
-Vai me pagar? 
-Claro que vou. Tenho muito dinheiro aqui. -Ele passa a mão no bolso da calça e logo depois em seu pênis, que pelo volume que faz na calça está na cara que está ereto. 
Não me julguem, ele é bonito, tem um cabelo cortado de maneira descolada e moderna, tem belos olhos azuis e parece um desses modelos famosos, mas eu não estava com a menor vontade de fazer sexo com ele. Parece que eu nunca quero fazer sexo com os meus clientes, o que é verdade, mas a grande parte é por serem bêbados, a falta de vontade com o Chad, eu não sei explicar. Já que quando um homem bonito, jovem e limpo nos aparece é praticamente motivo de soltar fogos. 
Nós fomos para o mesmo motel que fui com o Ed. Assim que entramos no quarto ele me segurou pelos ombros e me jogou na cama. Deitou o seu corpo por cima de mim e me beijou. Retribui o beijo, mas sem nenhuma intensidade, apenas fazendo movimento com os lábios. Ele sentiu a minha frieza e parou. 
-Se quer realmente ganhar esse dinheiro é melhor fingir que está feliz e retribuir direito o que estou fazendo, porque se fosse para transar com alguém que não se meche eu teria pegado uma boneca inflável. 
Então eu me senti desafiada, era sexo que ele queria, bem, era isso o que ele iria ter. Joguei o corpo dele na cama e sentei bem em cima do seu pênis. E comecei a lhe beijar, todo o seu corpo. 
-Assim está bem melhor. 
Ele tirou a sua roupa e tirei a minha, ele tinha um corpo lindo, mas nem isso me fez sentir prazer em estar ali, era tudo fingimento, mas eu estava fingindo bem, pois ele estava se achando um homem alfa, quando na verdade ele nem chegava perto de um beta. Fiz todas as posições possíveis com ele e transamos três vezes. O que me fazia ganhar mais dinheiro, pois foram três programas diferentes. 
-Então gostou? -Peguntei a ele com uma voz sexy. 
-Muito, agora sei porque o Ed gostou tanto de você. Ontem ele não parava de falar em você. -Ele suspirou. -Sempre vou querer transar com você. -Ele passou a mão em minha cintura e foi descendo até a minha bunda. Se virou e ficou me olhando face a face. Seu corpo encostando no meu. -Vou falar com Ed, dizer que ele tinha toda a razão de ter gostado de você. 
-Não! -Digo quase como um grito. 
-Porque não? -Ele pergunta desconfiado. 
Então não sei o que dizer, ele me olha e tento procurar a resposta certa, mas como achar a resposta certa quando nem eu mesma sei.

Capítulo 21 
Ed me deixa em meu apartamento e vai para a faculdade. Passo a tarde apenas imaginando como é que os misteriosos moradores, possíveis parentes, são. A noite chega e tenho que trabalhar, voltar para o mundo real. Encontro Feist no meio da praça, ela conversa com algumas garotas que esperam a sua vez para o programa. Ao me ver ela me dá um abraço. 
-Fui na sua casa hoje cedo, mas você não estava. Finalmente decidiu sair e ver a luz do sol? Tá certo que hoje não fez sol, mas você entendeu. -Dou uma risadinha. 
Penso se devo contar tudo para ela, chamo-a para um lugar mais reservado, pois não quero que as outras garotas escutem. 
-Eu sai com o ruivo de ontem. -Prefiro ir contando aos poucos. 
-O que? Quer dizer que você tem um cliente VIP? 
-Não é isso, é que ontem quando eu estava com ele, tive uma lembrança do meu passado. O passado esquecido. -Conto tudo a ela, até a parte que escondi na noite passada. 
-Então quer dizer que você achou os seus pais? -Ela diz um pouco emocionada. 
-Não, nem sei se eles são os meus pais, mas de alguma forma devem estar envolvidos com a minha vida. Estou tão nervosa para ir amanhã. -Feist me abraça e chora. 
-Nem acredito que finalmente a minha pequenina vai saber quem ela é. -Ela enxuga uma lágrima. -Você não sabe quantas vezes pedi para que você lembrasse quem era. Fiz isso desde o dia em que te conheci.

Capítulo 22 
Seis anos antes 
Eu já estava na companhia do bêbado e meu molestador há alguns meses, eu queria fugir, mas não sabia para onde e ele não me deixava. Forçava-me a trabalhar para ele e a noite fazer outros tipos de trabalho. Eu chorava toda noite quando ele roncava em meu ouvido, com o seu corpo colado ao meu. Um dia uma mulher bem volumosa passou no beco onde nós estávamos, ela me ouviu chorar e ficou observando. Sei que era perigoso, mas mais perigoso do que morar com seu molestador não poderia ser. 
Chamei-a e pedi ajuda. A mulher percebeu o que estava acontecendo na hora e me arrancou dos braços do homem. 
-O que está havendo? -Ele disse acordando assustado. Eu estava atrás do corpo da mulher. -Essa garota aí é minha? Eu a achei. 
-Quem você pensa que é para fazer uma coisa dessas com uma garota, ela é apenas uma criança. -A mulher então deu um tapa no rosto dele. 
O homem tentou bater nela, mas só fez piorar a situação, pois ela gritou e chamou a atenção de algumas pessoas que passavam por ali. A situação estava formada, a polícia chegou e prendeu o homem por assédio sexual em menores, violência contra a mulher e posse de drogas. Os policiais queriam me levar para um abrigo, mas Feist, a mulher que me salvou, disse que cuidaria de mim, ela até assinou papéis para isso. Foram vários meses para que a Feist fosse de fato a minha “mãe”. Desde esse dia eu sou grata a ela por tudo.
on sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Capítulo 20
A senhora olha para mim e Ed e se levanta.
-Eu realmente queria muito ajudar vocês, mas não posso. Mudei-me para cá não faz nem 5 anos. -Ela vai para próximo da lareira.
Olho para o Ed e sussuro um: Nós tentamos. Dou de ombros parecendo que não ligo, mas dentro de mim está tudo quebrado, minha esperança de descobrir quem sou está despedaçada.
-Eu realmente queria ajudar, mas não posso. -Ela se vira e olha para mim. -Mas não precisa se preocupar, pois sem que pode.
-Como assim? -Ed pergunta, seu sorriso iluminando a sala.
-Tenho o número dos antigos moradores, quando vim comprar a mansão mantive contato por um bom tempo, posso perguntar a eles onde moram e dar o endereço para vocês. -Levanto-me e dou um abraço nela.
-Muito obrigada, você não sabe como está me fazendo feliz. -Ela segura a minha mão.
-Não é nada, consigo enxergar em você uma inocência que me faz lembrar alguém. Alguém que amei muito, uma amiga antiga. Por isso quero ajudá-la. -Dou um sorriso e abraço-a mais uma vez.
A senhora, Charlotte, vai falar com os antigos donos da casa em outra sala enquanto eu e Ed ficamos no aguardo.
-Mal posso acreditar que vamos conseguir. -Digo a ele.
-Pois é, finalmente você vai descobrir quem é.
-Depois de tantos anos de incerteza agora a resposta vai chegar, isso tudo graças a você. Foi só depois que te conheci que tive a minha primeira lembrança, você é como um anjo da guarda meu. Que veio para me ajudar a descobrir o meu passado.
Ed vai falar, mas Charlotte volta e o interrompe.
-Pronto, falei com eles, peguei o endereço. Só tem um pequeno problema. -Estava demorando, penso. -Eles moram há 2 horas de viagem daqui.
-Então é esse o problema? Sem problemas, posso ir para lá sem problemas.
-Disse a eles que mandaria meu sobrinho e sua namorada. Tive que incluir vocês na minha família para que eles aceitassem a visita.
-Tudo bem, vamos saber interpretar não é Angel? -Ed pergunta.
-Sim, vamos saber sim. -Digo um pouco sem graça, pois nunca fingi namorar ninguém, só fazia sexo, nada de sentimentos.
-Ótimo, agora espero que tenham sorte. Se caso, você descobrir, minha filha, venha me contar. Ficarei muito feliz em saber o final da sua história. E se caso você não descobrir venha também, vai ser ótimo receber a sua visita. E o namorado pode vir também. -Ela olha para Ed.
-Não, ele não é meu namorado. -Digo rapidamente. -Nós só somos…
-Amigos. -A palavra amigo me faz ficar pensativa.
Somos amigos? Ele me acha digna da amizade dele? Nossa, isso é realmente algo bom. Nós saímos da casa e Ed olha em seu relógio.
-Droga, eu adoraria ir hoje com você lá na casa desses antigos moradores daqui, mas tenho que ir para a faculdade daqui a pouco.
-Tudo bem, eu pego um ônibus. Sei ir sozinha. -Ed faz uma cara de bravo e semicerra os olhos.
-Você realmente está pensando em ir sem mim? Nada disso, estou com você nessa, acha que eu ia te abandonar justamente agora que estamos tão perto de descobrir tudo? Nós vamos amanhã, sem falta. Vai pra casa e descansa.
-Tudo bem, já que você insiste tanto em ir, eu te espero.
Ele sorri e vamos para o seu carro. Pego o papel do endereço e fico olhando enquanto vamos para o meu apartamento.
Em um pedaço de papel está escrito o endereço do meu juízo final.


Capítulo 19

A porta se abre a nossa frente e vemos uma senhorinha, atrás dela uma mulher com roupa de empregada. A empregada nos olha dos pés a cabeça, com o Ed ela não tem muita estranheza, mas quando olha para mim sinto o nojo. Ed passa o braço ao redor da minha cintura e naquele instante eu me sinto mais segura. Como alguém que conheço há pouco tempo pode me passar tanta segurança?
-Bom dia. -A senhora diz educadamente. Ela olha para mim e sorri. Retribuo o sorriso.
-Como posso ajudá-los?
-A história é um pouco longa, se nós pudéssemos entrar ficaríamos muito gratos. -Ed diz.
-Claro, que gafe a minha. Desculpem-me, entrem, por favor.
Nós entramos e fico impressionada com o tamanho da mansão por dentro. Vejo todos os cristais e quadros e fico pensando em quanto aquilo tudo deve valer. Com certeza eu teria que fazer no mínimo uma vida de programas para conseguir comprar algo dali. A senhora nos guia para uma sala a esquerda da porta de entrada. Passamos por um corredor com um longo tapete vermelho de camurça e chegamos a uma sala bastante aconchegante com uma ótima lareira, sento próxima a ela e me sinto mais confortável.
A empregada, que continua a me olhar, serve chá para nós três.
-Então senhora…
-Mais uma vez me desculpe, não me apresentei. Meu nome é Charlotte. -Ed diz o seu nome e eu digo o meu um pouco tímida. -Angel, é um lindo nome.
 -Obrigada. -Digo com os olhos abaixados, sem coragem de olhar para aquela senhora rica que nos recolheu em sua casa, mas que depois de ouvir a nossa história vai nos expulsar e talvez chamar a polícia.
-Então, como eu ia dizendo, a Angel, essa garota aqui… -Ele então conta a minha história, sobre como acordei naquele dia, como lembrei na noite passada. Percebo que ele não menciona que sou garota de programa, sinto-me melhor de ver que ele está me poupando para o caso de não haver ligação nenhuma com os moradores daqui.
-Oh minha querida. -A senhora segura na minha mão e olha no fundo dos meus olhos. Não posso mais retirar minha visão da dela, pois sinto que seria grosseria. -Eu sinto muito por tudo o que lhe aconteceu.
-Tudo bem, se a senhora pudesse nos ajudar já seria de grande ajuda. Então a senhora sabe quem eu sou?

Capítulo 18
Paramos na frente da casa, respiro fundo, na minha mente começam a aparecer imagens de supostos moradores de lá, como será que eles são?
Qual serão as ligações deles comigo?
Ed toca a campainha da casa e me olha com um sorriso no rosto.
Porque ele se importa comigo? Ele quer ir para o céu? Só pode, para poder estar ajudando uma garota de programa como eu. Mesmo não tendo certeza dos motivos dele agradeço pelo fato de tê-lo aqui. Aperto mais forte a sua mão e ele me abraça. Encosto minha cabeça em seu peito e ouço o seu coração bater, o som vai ficando mais rápido.
-Não se preocupa, não vou deixar nada de ruim te acontecer. Vou te ajudar com eles. -Ele aponta para a mansão. Então uma voz sai do interfone da casa.
-Posso ajudar?
-Bom dia, sou Ed e estou aqui com uma amiga, gostaríamos de falar com os donos da casa. Estamos procurando alguém que morou aqui.
-Não são vendedores né? -Ed me olha e segura a risada.
-Não, somos cidadãos comuns.
-Tudo bem, podem entrar.
Nós ouvimos o barulho do interfone sendo desligado e logo depois as grades sendo abertas. Um grande caminho de areia se firma a nossa frente. Arbustos cobertos de flores amarelas e rosadas enfeitam a alameda até a porta. Vamos andando um pouco até chegarmos de frente para a porta.
-Foi fácil até agora. -Ele diz. Dou de ombros, se tem uma coisa que aprendi é a nunca achar que o jogo já foi ganho. A vida é uma caixinha de surpresas, não podemos achar que não vamos ser enganados.

Capítulo 17
Olho para o prédio e tento localizar, mais ou menos, onde o jardim da minha lembrança fica. Ed e eu vamos andando até os fundos dele e chegamos a um quintal de uma casa. Não é bem o jardim da minha lembrança, mas já faz bastante tempo, então deve ter mudado.
-Foi aqui nesse quintal que a minha lembrança aconteceu. –Digo, mesmo sem ter certeza, Ed e eu olhamos por cima do muro e tento encontrar pistas do que vi na lembrança que ainda pode estar ali.
Lembro de ter visto uma árvore perto do garoto, e o quintal que estamos olhando tem uma árvore, bastante seca, mas que deve ter sido, há anos atrás, a árvore da minha lembrança.
-É aqui, eu reconheço aquela árvore da minha lembrança. -Digo empolgada.
-Ótimo. –Ed segura a minha mão e me leva para a frente da casa.
-O que você está fazendo?
-Ué, vou te levar para falar com os donos da casa, se você tem lembranças no quintal deles, eles devem ter alguma ligação com você.
Minhas pernas começam a tremer só de pensar na ideia de falar com eles. E se eles realmente tiverem alguma ligação comigo? Se forem os meus pais? O que vou fazer se eles reagirem mal?
-Não posso fazer isso. Olha só para mim, e olha só para a casa. Quem for que more aí é uma pessoa de classe e o máximo que sou é uma intrusa nesse bairro.
-Angel, você tem que parar com isso. Você não é só aparência, é muito mais que isso, é meiga, adorável e eles vão notar isso. Se as pessoas dessa casa tiverem alguma relação com você, elas não vão reparar em roupas, apenas vão querer te abraçar para curar o tempo perdido. Então vem comigo e abre esses braços para o abraço que está por vir.
Respiro fundo e seguro forte a mão do Ed. Seja o que Deus quiser.
on quinta-feira, 27 de dezembro de 2012
Antes de postar o próximo capítulo eu queria comentar sobre ele com vocês, porque escrevê-lo foi a melhor coisa da minha madrugada, sim, eu o escrevi na madrugada de uma 2ª feira. Eu estava tão empolgado com o desenrolar da história que ele ficou um pouco grande, acho que é o maior até agora. Já tinha me afeiçoado aos personagens, mas foi depois desse capítulo que eles entraram de vez mais no meu coração. Espero que vocês estejam gostando tanto quanto eu estou gostando de escrever. Espero que quando lerem, lembrem de como me senti quando escrevi, com vontade de pegar o Ed e Angel e trazê-los para casa. 
Junior Melo



Capítulo 16
Ed estava com o seu carro, achei estranho o fato de ele não estar no trabalho em plena segunda-feira, mas ele me disse que não trabalha, apenas faz faculdade e que estuda a tarde. Perguntei a ele também o que ele fazia no dia que o vi na rua, ele disse que estava indo encontrar a sua ex-namorada. 
-O que aconteceu? –Pergunto a ele. –Não quero ser intrometida, mas é que contei tudo de mim para você ontem, agora é a minha vez de ouvir você falar. 
-Tudo bem, agora se você não aguentar ouvir de tão chata que é a minha história não vai ser culpa minha. –Reviro os olhos e mando-o contar logo. –Tá bom, calma, vou contar. No dia que a gente se esbarrou eu estava indo encontrar a minha ex, como eu já tinha dito, era um dia especial, nós estávamos comemorando 5 anos de namoro, sei parece muito. –Ele diz quando vê a minha cara de impressionada. –Nós começamos a namorar muito jovens, tínhamos 14 anos. Voltando, então eu estava indo com um presente para ela, estava voltando da joalheria quando esbarrei em você, por alguns instantes achei que você fosse ela, pois vocês se parecem um pouco, mas vi que não era, então segui em frente e fui para o local onde marcamos de nos encontrar. –Ele para de falar e parece querer encontrar as palavras certas. –Quando cheguei lá senti que ela estava distante, não estava dando muita atenção para o que eu estava falando. Estava sempre olhando para o celular, quando decidi pegá-lo, sem que ela percebesse. Acho que foi a melhor coisa que fiz, pois lá estava cheio de mensagens de um cara, ela tentou me impedir de ver quando notou que eu estava com o celular, mas não deu, eu consegui ver tudo. 
-Tudo o que? –Pergunto sussurrando, com medo de que ele me ache curiosa demais. 
-Eu vi mensagens românticas, eróticas e vi fotos que ele mandou, fotos dos dois… Bem, me fazendo de otário. Enquanto eu estava indo comprar uma aliança de noivado para ela, ela estava me traindo com ele. Enquanto eu estava preocupado com o nosso namoro e noivado, ela estava indo para um motel com ele. –Ele para o carro e fecha os olhos. –Acho que o pior de tudo foi ver as fotos, os dois na cama. Ela estava diferente, nunca havia ficado daquele jeito comigo. Era como se pela primeira vez ela realmente estivesse fazendo por prazer e não por obrigação. 
-Mas se ela não te amava, porque é que ainda estava com você durante esses 5 anos? –Ele olha para mim e dá de ombros. 
-Não faço a menor ideia. Talvez por conveniência, ela não havia achado ninguém melhor do que eu e decidiu aguardar com alguém “fixo”. 
-Alguém melhor que você? –Digo num tom de sarcasmo. –Seria impossível de encontrar, olha só para você, está ajudando uma pessoa que só conhece há um dia. Não tem ninguém que chegue a seus pés. –Ele sorri numa forma de agradecimento. 
Ed olha para a janela e segue o olhar até o topo de um prédio. 
-Bem, mudando um pouco de assunto, esse aqui é o lugar que você me disse. Está pronta para isso? 
-Não, mas eu quero passar por isso.

Capítulo 15
O sol ilumina o meu rosto, não há jeito tenho que levantar, ando até o banheiro e faço xixi. Prendo o meu cabelo em um coque e vou pegar algo para comer, deve haver algum resquício da última compra que fiz.
Abro o armário e vejo um saco de biscoitos, eles já perderam o gosto, mas vão servir para me alimentar.
Ouço um barulho na porta e vou abrir, só então lembro que estou sem roupa, mesmo sabendo que é a Feist decido vestir uma calcinha e uma blusa, só pra não chocá-la logo de cara. 
Ela bate na porta de novo e grito: 
-Pode entrar tá aberta. –Termino de vestir a blusa quando ouço a porta se abrindo. 
É uma blusa velha de um cliente meu que me deu como uma lembrança dele, não sei bem porque ele fez isso, mas serviu para algo hoje. 
Viro-me e vejo Ed parado olhando para mim, minhas bochechas ruborizam só de pensar que quis atender a porta pelada. Minha mente, ainda sonolenta, demora a processar o fato de tê-lo na minha casa... Ele veio.
-Eu vim te busca para irmos em busca do seu passado. –Ele diz brincando. –Acho que cheguei cedo demais. Não sabia a hora que você ia acordar, então decidi sair de casa assim que acordei. 
-Não, tudo bem, eu já estou pronta. –Olho para a minha roupa e coço a cabeça. –Quer dizer, quase pronta. Só vou trocar de roupa, é rápido. –Entro no banheiro e pego uma roupa não muito vulgar para sair. –Pronto, agora estou realmente pronta. Nós podemos ir. 
-Ótimo, você está bonita. Apesar de eu ter gostado mais do outro modelo. –Ele ri de um jeito charmoso e me faz ficar vermelha. –É melhor nós irmos logo. 
 Ele veio, de verdade, não é um sonho. Ele não tem vergonha de mim, pelo contrário, quer realmente ser meu amigo. 
Amigo. 
Por que essa palavra soa tão estranho?

Capítulo 14
Depois do bêbado e mais três clientes, volto para casa, não estou muito no espírito do trabalho, só consigo pensar no Ed e na minha lembrança. Os pequenos momentos felizes que passei. 
Deito na minha cama e fico olhando para o teto sujo e velho. Os buracos em alguns pontos que em épocas de chuva, ou seja quase sempre, fica gotejando. 
Fecho os olhos e fico revivendo a lembrança a todos os instantes, para quem sabe assim conseguir ter mais flashes que me informem mais coisas. Fixo minha lembrança no garotinho, não consigo enxerga-lo bem, mas ele tem um cabelo engraçado, é um loiro quase castanho, tem um sorriso acalentador. Quem sabe eu não me lembre dele quando voltar para o lugar onde a minha lembrança aconteceu? 
Tiro minha roupa e fico nua, apenas enrolada ao lençol, olho para a mesa onde guardo algumas coisas e vejo o pó branco lá, mas não tenho vontade de ir, não quero usá-lo hoje. 
Para que criar memórias e lugares felizes se agora eu tenho o meu?

Capítulo 13
Entramos no bar e finjo estar satisfeita com a grande noite, apesar de estar realmente, mas não satisfeita sexualmente falando. Ed senta ao lado do Chad, o amigo dele, os outros amigos riem e olho como quem está com pressa, quando na verdade eu só quero ficar mais com o Ed, eu pagaria até, para poder conversar mais um pouco com ele.
Chad se levanta e tira a carteira do bolso.
-Espero que tenha feito um bom trabalho. –Ele olha para Ed e depois para mim. –É, acho que deve ter feito, ele está com uma cara melhor.
-Com quem você pensa que está lidando? –Pego o dinheiro da mão dele e saio.
Volto para as ruas frias de Londres, para a minha rotina noturna. Será que agora que estamos separados ele vai realmente cumprir o que falou? Afinal de contas manter relações com uma prostituta, relações de amizade, não é bem visto pela sociedade, se ele quis fingir sexo para os amigos será que vai ter coragem de assumir uma amizade?
Vejo Feist na praça, não muito longe de onde estou, ela jamais acreditaria que tive a minha primeira lembrança, melhor, ela não acreditaria no meu começo de noite. Aproximo-me dela e sorrio.
-Então como foi?
-Normal, mais um cliente. Ah, você não vai acreditar, o cliente era o ruivo de hoje mais cedo, onde fiquei imaginando o corpo dele nu. –Nós duas rimos nos lembrando.
-E então, como era? –Ela diz mascando o chiclete que sempre está na sua boca, às vezes me pergunto se é o mesmo chiclete sempre, ou se ela muda.
Imagino como seria o corpo do Ed nu, bem, nós passamos muito tempo hoje, deu pra ver realmente como ele.
-Era um pouco do jeito que imaginei, e ele foi diferente dos outros clientes. –Ela olha sem entender, mas não quero entrar em detalhes, acho que vai ser melhor se essa noite só ficar guardada na minha cabeça. Mais um carro se aproxima e levanto-me.
-Desculpa, tenho que ir. –Sorrio para ela querendo esconder de mim o nojo que sinto só de pensar no bêbado que vou ter que pegar agora.
on sábado, 15 de dezembro de 2012

Capítulo 12
Lágrimas escorreram dos meus olhos e enxuguei para que Ed não visse. Olho no relógio e vejo que já podemos parar de fingir que fizemos algo.
Sinto que ele está atrás de mim observando, fico parada sem saber o que fazer. Não quero virar e dar de cara com ele, não com esse nó na minha garganta.
-Acho que eu já podemos ir, já deu o tempo de uma transa. –Confirmo com a cabeça. Ele segura a minha mão. –Vem, eu tenho que sair com você. –Ele brinca.
O toque dele é suave e macio. Só nesse tempo que estive com ele eu descobri várias sensações novas, é a primeira vez que alguém me trata como... uma pessoa. Não um objeto.
Nós saímos do motel e atravessamos a rua, antes de entramos no bar onde os amigos dele estão ele para e olha dentro dos meus olhos.
-Vai querer ajuda com amanhã? Posso ir com você para o lugar da sua lembrança, não tenho nada para fazer mesmo.
-Não, é claro que não. Você não precisa fazer isso, nossas relações acabam aqui, não precisa continuar sendo meu amigo, eu vou entender. Faz parte da profissão. –Solto minha mão da dele, mas ele segura ela com mais força.
-Eu quero fazer isso. Não adianta me impedir, vou te ajudar, sinto que preciso. –Lágrimas se formam em meus olhos, mas as impeço de cair.
O que é isso que ele está tendo por mim? Sei que é um sentimento, mas não lembro o nome… Ah, lembrei, compaixão. É que com o tempo quando nós não recebemos certo tipo de coisa acabamos nos esquecendo dela, eu nunca recebi compaixão desde que nasci, então essa palavra não fazia sentido para ser lembrada.
-Vou te ajudar. Amanhã passo na sua casa, só preciso do seu endereço. –Digo onde moro para ele. –E acabei de me lembrar, qual o seu nome?
-Angel. Pelo menos é o nome que recebi aqui nas ruas.
-Então Angel, amanhã nós vamos começar a caçar as suas memórias.
on sexta-feira, 14 de dezembro de 2012


Capítulo 11
Seis anos antes.
Depois de beber o café do senhor que me resgatou no dia do meu “nascimento”, passei alguns dias com ele. No começo ele foi bem atencioso, queria saber quem eu era, onde os meus pais moravam, mas eu não tinha nenhuma lembrança, tudo estava apagado, tudo escuro.
Mas depois de algumas semanas ele se mostrou um verdadeiro ogro e um monstro que até hoje me atormenta.
Tudo começou a noite. Eu estava deitada próxima a uma fogueira improvisada que ele fez e ele estava um pouco mais ao longe, eu estava tão distraída que não percebi que ele havia se levantado, primeiro ele sentou ao meu lado e me abraçou, logo depois me deu um beijo no ombro. Eu era muito inocente naquela época e mal percebi que ele estava com outras intenções. Só vim entender que ele não queria apenas me esquentar quando sua mão foi parar na minha perna e foi subindo cada vez mais. Empurrei a mão dele e tentei correr, mas ele me prendeu em seu corpo imundo e fedorento.
-Qual é garota, eu passei esse tempo todo te ajudando e sendo gentil, chegou a hora de retribuir. –Gritei, mas ele calou a minha boca. –Calada! É melhor não chamar a atenção de ninguém senão vai ficar pior pra você.
Ele me mostrou uma faca que estava escondida em sua cueca. Lágrimas escorreram dos meus olhos e então depois daquele momento minha vida nunca mais seria a mesma. Eu havia sido estuprada, violentada e precisava do meu violentador, pois ele era a única pessoa dali que eu conhecia.

Esse capítulo foi o mais difícil de escrever, para mim. Fiquei pensando em todas as crianças que já passaram e passam por isso todos os dias, o quanto elas sofrem por isso, é realmente muito triste. Espero que um dia tudo isso mude.


Capítulo 10
Minha excitação é impossível de esconder, meu corpo só falta tremer de tanta felicidade. Aquela é minha primeira lembrança, nunca tive nada parecido antes.
Por isso conto da minha lembrança para o Ed. Consigo enxergar em seus olhos que ele realmente está feliz pela minha memória ter começado a voltar, mas como é possível? Ele é apenas um cliente, diferente dos outros admito, mas ainda sim um cliente. Não tem motivos para se envolver com a minha história.
-Por que você está feliz? Eu realmente não consigo entender, sou só uma garota de programa e você é um cliente com uma ótima vida. –Ele cerra os olhos.
-Isso foi um pouco ofensivo, me fez parecer um garoto rico mimado que não pensa nos problemas dos outros. Se passei essa impressão peço desculpas, pois não sou assim. Estou feliz por você, pelo que me contou você sofreu bastante e ainda sofre por causa da sua vida. Sou humano eu me envolvo com boas histórias, fico triste, feliz, com raiva dependendo do que acontece. –Ele segura a minha mão e percebo que nenhum homem fez isso antes, pelo menos não da maneira que ele está fazendo. –Sei que as pessoas não são muito gentis com você, mas nem todo mundo é rude e grosso, existem pessoas boas.
-Desculpa, é que sou um pouco selvagem, não saio muito de casa para evitar contato com os outros, pois sempre acho que vão me maltratar. Você não sabe nem a metade do que já passei na vida.
Levanto-me e olho pela janela para a rua um pouco molhada e pouco movimentada.
Então volto seis anos atrás, para o momento em que minha vida tomou o pior rumo possível.



Capítulo 9
As imagens são um pouco turvas, como quando estamos na escuridão e nossa vista aos poucos vai se acostumando a uma repentina luz que se acende.
Consigo ver um garotinho na minha lembrança, ele está com a mão esticada na minha direção e diz: 
-Podemos ser grandes amigos. 
Enxergo que estamos em uma espécie de jardim. Preciso lembrar onde é. Talvez seja a primeira pista para saber de onde sou. 
Vasculho todos os cantos da lembrança e então encontro uma coisa. Vou revisitando a lembrança o tempo todo, vejo casas, prédio... Prédio, então consigo enxergar um prédio que sei onde fica, bem atrás do garoto.
Ótimo já tenho uma pista para desvendar o mistério que rondou minha cabeça durante todos esses anos. Minha mente volta para o quarto de hotel e olho para o Ed, o que ele acabou de falar faz total sentido. Nada na vida é por acaso, tem algo reservado para nós, ele é a pessoa que veio para me ajudar a descobrir quem sou.

on segunda-feira, 10 de dezembro de 2012


Capítulo 8
Os amigos do Ed nos deixaram no motel e foram para um bar próximo ali para beber. Entramos no quarto, que por sinal já estive nele muitas vezes, ele senta na cama e fico sem saber o que fazer. Era para ele estar me beijando agora e então me deitando na cama e tirando a sua roupa.
-Foi mal. –Ele diz. –Não estou com muita cabeça para sexo. Só topei isso pra fazer o Chad parar de falar, então se pudermos fingir que transamos pra mim está ótimo. –Seus olhos encontram os meus.
-Ainda vou receber meu pagamento não é? –Ele coloca a mão no bolso e tira uma nota de 100 do bolso. 
-Isso é a minha parte para que você finja ter transado comigo, o Chad deve ter pagar o programa. –Pego o dinheiro e concordo com a cabeça. Sento ao lado dele na cama.
-Então o que nós vamos fazer nesse tempo que temos? –Pergunto a ele. Seus lábios se abrem e me revelam um sorriso lindo e verdadeiro.
-Isso é engraçado, estou em um programa com uma garota de programa, mas nós só estamos conversando. Quer falar um pouco da sua vida? –Ele encosta-se à cama e espera que eu fale.
-Você não vai querer ouvir, tem muitos problemas.
-Ótimo, é bom que assim eu esqueço um pouco os meus. –Ele sorri de uma maneira educada. –Pode falar, estou pronto para ouvir.
Sinto-me confortável de estar conversando com ele, conto a minha história, ou pelo menos uma parte dela, sem medo algum de contar isso a um estranho. Ele comenta algumas coisas durante alguns momentos e em outros fica apenas ouvindo.
-Nossa, que história garota. Isso daria um ótimo livro/filme. Já pensou em escrever algo sobre isso? –Dou uma risada do que ele disse.
-Você acabou de ouvir o que disse? Quem ia querer ouvir a história de vida de uma garota de programa? Bem, só você, mas é uma situação especial. 
-As pessoas te tratam muito mal por causa da sua profissão?
-Já sofri muito preconceito, mas como mal saio de casa de manhã não passo mais por isso.
-Mas hoje eu te vi de manhã. –Então ele realmente me reconheceu. –Você esbarrou em mim no meio da rua. –Ele sorri. –Era você não era?
-Sim, era eu. Também me lembrei de você. Confesso que fiquei um pouco assustada quando vi que era você o cara que ia fazer o programa comigo. –Nós rimos. –É uma grande coincidência.
-Talvez não seja por acaso, nada na vida é. Deve ter algo reservado para nós, quem sabe nós não nos tornemos grande amigos?
Ouvir aquela palavra me remete a uma frase dita por alguém no meu passado. No meu passado esquecido.



Capítulo 7
A noite chega e mais uma vez tenho que ir para o trabalho. Tomo banho e vou me maquiar, coloco um batom vermelho e visto um casaco para me proteger do frio. Feist vai comigo até a praça e ficamos lá. Daqui a pouco os clientes devem começar a aparecer.
O dia hoje foi divertido, não vou negar, teria sido melhor se o dia tivesse acabado ali, mas ainda tenho uma noite pela frente.
No fim da rua ouvimos um barulho de som de carro nas alturas se aproximar. Jovens bêbados, nossos melhores clientes. Por serem jovem topam qualquer coisa e pagam bastante caro por isso. O carro para na praça e Feist me empurra para que eu vá na direção. Paro na frente da janela e um rapaz de cabelos loiros e um pouco bêbado aparece.
-Então gata, quanto você cobra pra um sexo animal? –Ele e os amigos riem.
-Não faço programa com animais, só com humanos. –Dou um leve sorriso.
-Nossa, parece que alguém aqui gosta de brincar. Falando sério agora, quanto custa? –Olho para dentro do carro e vejo mais alguns rapazes, pelo visto vai ser uma noite longa.
-Vocês vão rachar a conta? –Pergunto com uma vontade de rir.
-Não, eu vou pagar pra um amigo meu. Ele terminou com a namorada e precisa de ânimo. –Ele aponta para trás e tento ver o tal amigo dele, mas ele está escondido e não consigo ver, apenas ouvir sua voz.
-Não precisa Chad. Eu vou pra casa, não estou com a menor vontade de pegar uma prostituta hoje, vamos pra casa. Compro cerveja e bebo até não aguentar mais. –Ele então aparece com o seu rosto próximo ao banco da frente. –Fica para a próxima… –Ele então fica de boca aberta e eu também.
É o mesmo homem que esbarrei hoje cedo, o de cabelos ruivos, o que eu imaginei pelado.
-Qual é Ed? Você precisa de um ânimo, e olha só pra ela, tem um ótimo corpo e parece que está doida pra te dar prazer. –Então volto para os negócios, paro de ficar o encarando. –Entra aí, se ele não quiser eu vou querer você. –Alguns dos outros rapazes que estão lá, falam para o Ed passar essa noite comigo, ele parece não querer discordar mais.
Abro a porta do carro e sento ao lado dele. O carro sai da praça e sei que deve ir para o motel mais próximo daqui, esse Ed não tem cara de que quer fazer sexo no carro na frente do outros.
Fico com os olhos fixos no chão o tempo todo, sei que alguns momentos ele olha para mim, deve ter me reconhecido, só quero que cheguemos logo no motel e terminemos logo tudo isso.
Porque só a ideia de transar com ele me deixa com vergonha? Isso nunca me aconteceu.

on sábado, 8 de dezembro de 2012


Capítulo 5
O sol ilumina o meu quarto, pois não posso chamar de casa. Depois de ter ficado um pouco além dos limites na noite passada eu fui dormir.
Levanto-me e vou para o banheiro, o que significa que dou dois passos para a direita e estou perto de uma pia. Não tenho luxos e nunca consegui me imaginar com algum, talvez no meu passado eu tenha sido uma garotinha rica que se perdeu dos pais e de alguma forma perdeu a memória e nunca mais retornou para o lar, mas sei que isso é apenas a minha imaginação. Coisas assim só acontecem na TV, não com garotas reais como eu. Por isso tenho que sair todas as noites e fazer sexo com pessoas desconhecidas, para manter a minha vida “luxuosa”.
Ouço um barulho na porta e vejo quem é antes de abrir, com certeza deve ser problema, o que mais poderia ser?
Feist entra e senta na cama, sempre com um chiclete na boca.
-Então, o que vai fazer agora de manhã? – Enxáguo minha boca e cuspo os resíduos de pasta da minha boca.
-Pretendo ficar em casa e tentar esquecer um pouco dos meus problemas, acho que ainda sobrou um pouco de cocaína, não devo ter usado tudo a noite passada. –Feist me olha severamente. –Olha Feist, você sabe que de todas as garotas você é a minha única amiga, mas eu não preciso aguentar você resmungando agora de manhã. Eu sei que isso é errado, sei que estou pegando pesado, mas é a única coisa que me faz feliz nessa vida de merda. –Sento ao lado dela na cama.
-Awn querida, sei que para você deve ser pesado, pois você não lembra como chegou aqui, mas tenta pegar leve, nunca se sabe o que pode acontecer amanhã. Não quero perder a minha única amiga pra overdose. –Ela segura a minha mão e acaricia de leve, só para mostrar apoio.
-Tudo bem, o que é que você sugere que eu faça agora de manhã? –Ela sorri e mostra o chiclete preso em seu dente.
-Vamos caminhar pela cidade, ver um pouco a paisagem. Qual é? Sai desse muquifo um pouco. Ele fede a mofo e daqui a pouco você vai estar cheirando assim. Nós vamos sair e vamos nos divertir um pouco e… Por minha conta. –Ela mostra o dinheiro. –A noite ontem foi boa. Vamos. –Ela segura a minha mão e me leva para o lado de fora da casa, só consigo pegar um casaco e vou junto com ela.

Capítulo 6
Feist vai me guiando pelas ruas e me mostrando algumas lojas com roupas que ela adora. Entramos em algumas, mas saímos de todas com as mãos vazias. Confesso que me divirto um pouco com ela, mas no tempo que não estou me divertindo estou batendo o queixo do frio que faz.
-O que acha de tomarmos um café? –Então concordo, pois aquela foi a melhor ideia da Feist até agora.
Ela me agarra pelo pulso e vai me puxando pela calçada, sou levada no meio da multidão, então esbarro em um homem. Olho rapidamente para ele, mas a única lembrança que tenho é dos cabelos ruivos. Ele olha para mim, mas Feist me tira de toda aquela cena. Paramos em frente a um café e entramos lá para tomar alguma coisa que nos esquente, de preferência chocolate quente.
Não sei por que, mas não tiro a imagem dos cabelos ruivos da minha cabeça.
-Você estava só com um pouco de pressa né? –Digo para Feist. –Fui praticamente arrastada pelas ruas.
-Não gosto de perder tempo. –Ela diz isso e cruza as pernas. Olha para a janela que tem ao nosso lado e acompanho o seu olhar.
As pessoas vão andando com passos apressados, todos ocupados com os seus empregos normais. Então algo se destaca no meio de toda aquela multidão vestida de preto e branco, um cabelo ruivo quase laranja. Ele olha para os lados e agora consigo ver o seu rosto, nada mal, ele é bonito, olho para o seu corpo e sorrio, imaginando ele nu, sim eu tenho essa mania, mas é por causa da profissão. Imaginando o corpo dele acho que ele seria um ótimo cliente.
-Por que esse sorriso na cara? –Feist pergunta.
-Nada, eu só estava imaginando uma coisa. –Ela acompanha o meu olhar para o garoto de cabelos ruivos, o qual eu esbarrei.
-Estava imaginando ele pelado?! Tudo bem, eu também já fiz muito isso. Ossos do ofício. –Nós duas rimos.
Ele então olha para a direção do café e não consigo virar o rosto, apenas fico olhando para ele. Então alguém esbarra nele e ele vai sendo levado pelo povo.
Porque ele ficou me encarando? Pode ler mentes? Só pode.
Então sinto um pouco de vergonha do que pensei, mas bem, já foi pensado, não pode “despensar”.

Esse capítulo é duplo porque na época que foi postado no Tumblr o Ed Sheeran, criador da música The A Team e personagem da fic, havia ganhado dois Brit Awards, foi uma forma de comemorar :) Cheers Ed.



Capítulo 4 

Abro a porta do meu cafofo, o cheiro do assoalho mofado toma conta das minhas narinas. A iluminação dele não está nada legal, apenas uma luz incandescente ilumina o lugar. 
Jogo a bolsa na cama e vou direto para o banheiro, tiro a minha roupa e entro na banheira amarelada e com rachaduras. Um banho, é o que preciso para me sentir limpa depois de todos os homens que passaram por mim hoje. Tiveram todos os tipos asquerosos, mas eu tive que revirar os olhos para todos eles, mesmo que para todos a revirada tenha sido de nojo e não prazer, mas é meu dever, sou quase uma atriz. Apenas não recebo prêmios e nem sou reconhecida pelos meus trabalhos. Caso faça um bom trabalho a única coisa que recebo é um tapa na bunda e um: bom trabalho gostosa. Alguns trocados a mais na hora do pagamento? Talvez, se o homem for muito bonzinho. Quais são os planos que tenho para a vida, muito devem se perguntar… Só quero uma coisa… Saber quem sou, sabendo isso minha vida estará resolvida.
on terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Capítulo 3
-Então, quanto conseguiu faturar? –Feist me pergunta, ela é assim direta, pois não temos tempo para enrolação.
-150, e você? –Ela retira um rolinho de dinheiro da calcinha e conta.
-260. Ainda estou na frente colega. –Ela ri e solta uma baforada de cigarro na minha cara.
-Você sabe que isso aqui não é uma competição. –Guardo o dinheiro na minha calcinha e pego o cigarro da Feist, dou uma leve tragada e devolvo. –Só quero conseguir um dinheiro legal para que no final eu consiga pagar as contas e quem sabe comprar algumas gramas daquilo.
-Vai com calma na cocaína amiga. Não é coca-cola. -Ela ri da sua própria piada. -Você não acha que já está ficando viciada nessa merda? –Feist às vezes se comporta como uma mãe protetora, mas seus atos não são nada parecidos com os de uma mãe. Assim como eu, ela é uma garota de programa, que é paga para dar prazeres aos homens mais imundos e nojentos da cidade.
-Como posso não ficar viciada se o que há ao meu redor é isso? –Mostro as outras garotas fumando, bebendo, com cachimbos de crack e saquinhos com pós brancos. –É isso o que precisamos para aguentar a barra da nossa rotina de trabalho, e você não pode me julgar, pois sei que usa essa merda também.
-Uso e não nego, mas acho que você é muito nova para estar envolvida com essas coisas. Angel, vai com calma. –Um carro para na esquina e buzina. –Deixa eu ir atrás desse. Tem cara de quem vai querer apenas um sexo normal e rápido, a esposa deve estar em casa cuidando das crianças e não dá atenção a ele.
-O.K. Vai lá psicóloga. As pessoas podem olhar torto para a minha história, uma garota de programa viciada, mas sou mais que isso, pelo menos espero ser mais que isso.