Act like there's nothing wrong

on domingo, 30 de dezembro de 2012
Sim, eu ainda fico pensando naquela segunda-feira. A segunda-feira onde encontrei a garota da minha vida.Parece desesperado dizer isso, mas eu sei que ela era. As razões que me levam a ter essa certeza são: desde aquele dia eu procuro incessantemente outro encontro nosso; sonho com o rosto dela todas as noites; quando estou em devaneios é para perto dela que eu vou. Isso não acontece com garotas normais que se encontra no dia a dia. Isso acontece com A garota que se encontra apenas uma vez na vida. 
Na minha mente as imagens do nosso primeiro encontro estão começando a se confundir, por isso acho melhor colocar tudo no papel antes que esse grande momento vire apenas uma pequena lembrança. É algo que tenho muito medo, de perder a visão dela em minha mente. De acordar um dia e perceber que já não lembro mais como ela é, como me senti ao vê-la. Não, ponho tudo no papel para que possa reviver essas sensações sempre. 
Eu tinha acabado de sair de uma aula bem entediante, minha mente ainda estava no modo off quando entrei no ônibus e sentei num assento da parte traseira. Com os fones de ouvido entrei num mar de pura ilusão, minha mente caminhando por lembranças e ideias. Se me perguntarem hoje que lembranças e ideias eram essas, apenas poderei responder: bem interessantes... Até o momento em que a vi. 
O ônibus estava cheio, como sempre fica. Saí do mar e fui para a superfície, apenas para observar as pessoas (banhistas) que estavam ao meu redor. Minha mente seguiu: nada, nada, nada, nada... Deslumbramento. Ela estava parada no centro do ônibus, devia ter mais pessoas ao redor dela, mas naquele momento apenas a presença dela me bastava. Os cabelos ruivos caindo-lhe por sob os ombros de forma graciosa, o ombro a mostra em sua blusa. Meu olhar foi acompanhando cada parte do corpo daquela divindade, digna de belezas élficas. 
Toda compenetrada no seu próprio mar de ilusão, só que o seu tinha outro nome... celular. Estava se comunicando com alguém por mensagem de texto quando se sentou em um lugar que tinha acabado de ficar vago.
Olhei para o mar e ele já não parecia mais tão atrativo assim. A superfície, pela primeira vez, estava melhor.
O percurso todo se seguiu com ela banhando-se em seu mar e eu apenas a observar de longe, com meus olhos miúdos decorando cada movimento que ela fazia. Na hora de descer, não sei se foi o meu desespero de não perdê-la de vista, ou se ela estava realmente me esperando, mas descemos juntos... Ali eu sabia que nos separaríamos e eu apenas teria as lembranças daquela viagem de ônibus. 
Surpresa melhor não seria... Entrei na fila para esperar o outro ônibus que tomaria na minha enorme rotina de volta pra casa; tentei voltar para a escuridão da minha mente, mas uma brilhante luz me retirou de lá... Era ela. Parou um pouco atrás de mim, um senhor nos separava. A partir dali eu já não estava interessado em olhar para frente da fila, a parte de trás estava mais interessante. 
Ela não pegou o seu celular em nenhum momento que estávamos na fila, já eu, por receio de ter aquilo tudo acontecendo apenas em minha mente (refiro-me a reciprocidade dos olhares), preferi manter os fones. Não me julguem, caros leitores, pois o meu julgamento já é o bastante para saber como fui estúpido em continuar com os fones. Se houvesse uma maneira de mudar o passado, eu os teria arrancado e jogado do outro lado do terminal de ônibus. Mas não há, portanto entendam, nunca fui um ser humano com elevada autoestima, ao contrário a minha andava bem no subsolo. Apenas admirava a beleza alheia e suspirava imaginando se um dia chegaria a tal... Não que seja feio, pelo menos nunca ninguém (além de mim) me disse isso; presume-se que eu esteja na faixa dos medianos... E para um mediano, ter uma garota deslumbrante, filha de Afrodite, lhe observando deve ser no mínimo coisa da sua cabeça. Estás apenas a imaginar, ó mente fértil. 
Espero que tenham entendido as minhas razões de recear os olhares. Era por medo, não dela, jamais teria medo de tão bela criatura, meu medo era de todo aqueles olhares e sentimentos estarem ocorrendo apenas em minha cabeça. 
Já estávamos próximos de entrar no ônibus, quando este começou a demorar mais do que o normal. O som que tocava em meus ouvidos me contagiou e passou diretamente para os meus dedos, que batucavam ao ritmo da música... Não apenas eu batucava, ela olhava para os meus dedos (acho que olhava) e repetia o ato. Como se dissesse: gostaria de acompanha-lo no ritmo. Neste momento minha mente começou a trabalhar em ritmo acelerado, buscando pistas de que aquilo realmente estivesse acontecendo, não poderia ser apenas obra do meu inconsciente. Não tinha como ser. 
Respirei fundo, olhei nos olhos dela... Lindos olhos castanhos e expressivos. Aquele típico olho que apenas alguns segundos observando e se saberia exatamente o que a dona deles estava pensando. Respirei fundo e... O ônibus então chegou... 
Se ela sentar ao meu lado isso significa que tudo está acontecendo. Se ela sentar ao meu lado isso significa que tudo está realmente acontecendo. Repeti para mais de mil vezes em minha mente. Procurei um lugar para sentar no ônibus e torcer para que ela sentasse ao meu lado... Para a minha infelicidade, não haviam lugares nem para mim, nem para ela. Pessoas e mais pessoas se amontoaram entre nós e eu já não conseguia vê-la mais. 
Eu estava perdido no mar real de pessoas, sentia ela se afogando e se distanciando cada vez mais de mim. Tentei erguer minha mão para trazê-la de novo para a minha superfície, mas ela já estava indo para as profundidades... Naquele momento eu soube que a tinha perdido e no momento em que descemos no outro terminal, não houve nem um tempo para saber nomes e trocar telefones. Ela caminhou para o seu lado e eu, mais uma vez, infelizmente, caminhei para o meu, muito a contragosto por sinal. 
Ali foi a última vez que a vi. Durante toda a semana eu deixei de visitar o meu mar de ilusão só para ver se a reencontrava, mas isto não aconteceu. 
Hoje o único lugar que posso reencontrá-la é em meus sonhos, onde revisito o momento e dou um final diferente para ele. Um final onde eu retiro os fones e digo meu nome, ela sorri graciosamente e diz o seu... Um nome que em cada sonho eu mudo, quero ter sempre essa incógnita em minha mente... Nós conversamos, trocamos telefones e alguns dias depois, conhecemos tanto um o outro que acabamos nos rendendo a aquilo que já estava destinado para acontecer... 
Que não aconteceu. 
Ao menos agora tenho não só os meus sonhos, mas também este texto, onde sempre que ler poderei reviver aqueles instantes de glória. Os instantes ao lado da garota da minha vida. 

Esse texto é um espécie de desabafo sobre um fato ocorrido. Nem tudo que está foi real, mas isso não anula a realidade dele. O título foi retirado da música Cry da Kelly Clarkson, pois resumo o pós-texto (ocorrido). Agindo como se não houvesse nada de errado, quando na verdade tudo está. Espero que tenham gostado :)

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